Lembro-me do seu primeiro sorriso, do seu primeiro olhar, da
sua primeira risada, até da sua primeira piada, me lembro de tudo que se refere a você, me lembro dos nossos primeiros sorrisos juntos, da nossa
primeira troca de olhares, da primeira fusão de nossas risadas que
sabe lá Deus que som era aquele, mas se o amor pudesse ser representado por uma risada, ele seria a nossa, me lembro da nossa
primeira piada extremamente sem graça, mas era a nossa piada. Era eu, era você agora
somos nós e a pior parte de ser meu bem,
é ter que deixar, deixar de ser. Deixar sermos nós e passarmos a ser você e eu,
você trocando outros olhares, eu fundindo minha risada com a de outra pessoa,
você contando a mesma piada e provocando o riso de um lábio diferente e eu
tendo que esquecer, esquecer o que você foi, o que eu fui e o que nós fomos.
Eu não quero esquecer, não quero tentar não enxergar você em
tudo não quero cavar até minhas entranhas e retirar você de dentro do meu
coração, não quero chorar todas as noites pensando na possibilidade de você
estar do meu lado, não quero ter que dar minhas mãos ao vento porque o calor
das suas se encontram longe aonde meus dedos não podem chegar, não quero ter
que sorrir sozinha, caminhar sozinha, amar sozinha. Ser eu, ser somente eu,
porém eu sozinha.
Se faltar
você, falta ar, falta paz, falta amor, falta guerra, falta voz, falta tudo.‘’ O amor comeu meu nome, minha identidade, meu retrato. O amor
comeu minha certidão de idade, minha genealogia, meu endereço. O amor comeu
meus cartões de visita. O amor veio e comeu todos os papéis onde eu
escrevera meu nome.
O amor comeu minha paz e minha guerra. Meu dia e minha noite. Meu inverno e meu
verão. Comeu meu silêncio, minha dor de cabeça, meu medo da morte.
Trecho de '' Os três mal amados'' de João Cabral de Melo Neto.
Texto escrito por mim em um dia que não sei qual, invadida e corrompida por um sentimento que também não sei qual é.
Gostou do texto? Acha que o blog deve ter mais textos assim?
Nenhum comentário:
Postar um comentário